"Mistério do Planeta - Novos Baianos", uma leitura Gestáltica:
"Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso
Jogando meu corpo no mundo
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto"

Mistério do Planeta – Novos Baianos

Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso
Jogando meu corpo no mundo
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto
E passo aos olhos nus
Ou vestidos de lunetas
Passado, presente
Participo sendo o mistério do planeta

O tríplice mistério do “stop”
Que eu passo por e sendo ele
No que fica em cada um
No que sigo o meu caminho
E no ar que fez que assistiu
Abra um parênteses, não esqueça
Que independente disso
Eu não passo de um malandro
De um moleque do Brasil
Que peço e dou esmolas
Mas ando e penso sempre com mais de um
Por isso ninguém vê minha sacola

Uma análise sob a perspectiva dos conceitos da Gestalt-Terapia.

A música Mistério do Planeta, do grupo Novos Baianos, pode exemplificar de forma poética algumas das bases da proposta psicoterapêutica da Gestalt-Terapia, que faz parte do grupo de abordagens psicológicas de base fenomenológica-existencial.

Na primeira estrofe “Vou mostrando como sou / E vou sendo como posso / Jogando meu corpo no mundo / andando por todos os cantos”, o eu lírico apresenta uma síntese do conceito de liberdade proposto pela filosofia existencialista, dialogando diretamente com o proposto por Sartre que compreende o homem como um ser livre, e consequentemente, responsável por si, dentro, no entanto de um campo de condições possíveis. O ser do eu-lírico se apresenta por si mesmo, dentro de suas possibilidades, e a partir disso é capaz de explorar o mundo do qual é parte.

Em seguida, no trecho “E pela lei natural dos encontros / Eu deixo e recebo um tanto / E passo aos olhos nus / Ou vestidos de lunetas / Passado, presente / Participo sendo o mistério do planeta”, temos uma exemplificação de uma das especificidades da Gestalt-Terapia, também conhecida como “Terapia do Contato”, pois enfatiza o processo dialético de troca que se estabelece entre “Ser e meio”/”Eu e Não Eu”.

Isto é, a medida que o eu-lírico está no mundo e com os outros, ele interage em um processo dialógico em uma dinâmica de transformação mútua, de modo que o organismo se complexifica a cada novo encontro. Nessa dinâmica, o passado e o futuro compõem o campo que se manifesta no aqui e agora.

Acerca da última estrofe, Luiz Galvão, um dos membros o grupo, descreve: “sempre me perguntam o que vem a ser “o tríplice mistério do stop”. e respondo que era tríplice por ser três, sendo um porque nós estávamos mesmo passando e sendo – dois por sermos bola pra frente para não ficarmos no desejo, e três a fé em deus que assistia, porque já sabíamos que deus fica na dele, e nos dá liberdade para erramos e acertarmos…”.

O que sintetiza as ideias gerais presentes na poesia que termina lembrando: “Mas ando e penso sempre com mais de um/Por isso ninguém vê minha sacola” que descreve o caráter indivisível da relação entre o Eu e o Outro, na qual o ser é uma composição complexa que assimila elementos de fora, tornando-os seus, como uma bagagem invisível para o outro.


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