O quadro “A Queda de Ícaro”, atribuído ao pintor holandês Pieter Bruegel (embora haja controversias), representa o mito grego de Ícaro, mais especificamente a cena de sua queda.
Na mitologia helênica Ícaro e seu pai Dédalos foram condenados pelo autoritário rei Minos à viverem e morrerem isolados no labirinto, onde outrora vivia o Minotauro. Dédalos era o maior inventor de seu tempo e conseguiu planejar a fuga de ambos. Para isso ele produziu dois pares de asas, com penas de pássaros coladas com cera, ao utilizá-las pai e filho conseguiriam fugir do labirinto voando. Antes de fugir, no entanto, ele avisou a seu filho que não voasse muito alto, pois a incidência mais intensa do sol poderia derreter a cera, o fazendo cair. Apesar das orientações do pai Ícaro ficou embebido da experiência única de voar, e em seu êxtase foi cada vez mais alto, a ponto de já não ouvir mais os chamados de seu pai. No entanto, como avisado, o calor intenso corroeu as asas de Ícaro que caiu no oceano sem conseguir chegar à terra firme.
O mito de Dédalos e seu filho foi muito representado nas artes, normalmente para falar sobre a arrogância humana ou sobre a impulsividade juvenil. Nesta obra, no entanto, o autor decidiu explorar um aspecto bem diferente. No quadro que recebe o nome “A Queda de Ícaro” este não se encontrar como figura central. Na verdade, é possível ver uma bela paisagem, com pessoas comuns trabalhando e quase não notar, no canto inferior direito, as pernas e braço de Ícaro afundando no oceano.
Podemos interpretar esse aspecto da obra como uma abordagem da fugacidade da experiência humana, isto pois, apesar da personagem principal estar em seu clímax de sofrimento, a vida ao redor continua plácida, sem que a maioria das pessoas sequer note o evento mítico.
De fato essa noção de perspectiva sobre as nossas experiências é muito difícil de obter, afinal estamos sempre imersos nos nossos próprios medos, angústias e desejos, no entanto, pode ser bastante útil perceber a dimensão deles. Muitas vezes vivemos grandes sofrimentos pensando no que os outros irão pensar, de que modo vão reagir a nós, sendo que muitas vezes isso não será nem notado pelo outro. E quando for, é impossível saber quão marcante isso será na realidade.
O fato é que os outros estarão, na verdade mais ocupados com as próprias experiências, o que pode ser uma percepção até bastante libertadora de se pensar!
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